Existe nos filmes de Mizoguchi uma força de realidade, como se estivéssemos a olhar através de uma janela para algo que está mesmo a acontecer. Talvez seja pela sua mise-en-cene, os seus longos planos médios, pela beleza dos cenários.
Quando imersos nessa realidade, surge o fantástico, ele é real, e ambos se fundem. Ele é tão concreto e simultaneamente etéreo. Esse é o maravilhoso dos Contos da Lua Vaga.
É um registo de um sonho que o filme adopta, um sonho feito de desejos por concretizar e das terríveis consequências que eles trazem. A procura dos desejos leva-nos ao fundo de nós mesmos e lá encontramos o que realmente importa. Mas para um dos protagonistas apenas sobram resquícios de uma vida que pode querer reconstruir com a mulher. O outro, entrou no reino dos fantasmas e só enquanto fantasma poderá concretizar os seus desejos. Assim foge do desejo de uma fantasma, para encontrar, apenas como sonho, aquilo que mais quer – reunir-se com a sua família.
É a naturalidade do registo que o torna tão comovente e tão onírico. Porque o que são os fantasmas senão a manifestação visível daquilo que já não conseguimos ter, e onde mais do que no cinema é possível visitar tais fantasmas.
Os contos da Lua Vaga é um filme imenso que povoa os meus sonhos. O seu plano final é um doloroso e lindíssimo olhar para a família finalmente reunida. Simples, desarmante e arrasador. Só por ele vale a pena visitar vezes sem conta estes contos.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
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