sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
domingo, 22 de fevereiro de 2009
Gangs of New York e Kundun - Os Sonhos políticos de Martin Scorsese
Gangs Of New York e Kundun são dois filmes muito distintos entre eles e mesmo na carreira de Martin Scorsese. São para mim dois lados de uma mesma moeda. Como uma fantasia politica sobre géneses, países, pessoas e morte.
Kundun é, em primeiro lugar, um relato dos primeiros anos de vida do Dalai Lama. Simultaneamente uma biografia e um filme religioso. Trata-se da descoberta do 14º Dalai Lama, um homem santo, reencarnação do 13º. É um filme que lida com uma religião e um maravilhoso, em grande parte distante de Martin Scorsese, essa distância é utilizada para reforçar ainda mais o lado etéreo e maravilhoso do filme. Utiliza o personagem do Dalai Lama e as perplexidades próprias de uma criança a quem é atribuído o papel mais importante de um país e de uma religião, para nos mostrar esse mundo.
O olhar infantil é essencial, como um sonho, acontecimentos desenrolam-se. Uma inevitável corrente, muito fiel aos princípios tibetanos de que a vida está em constante mutação. Pé ante pé, vamos saindo do pequeno universo do Dalai Lama para a realidade do país Tibete, da II Guerra Mundial e da ascensão de Mao Tsé-Tung e subsequente invasão.
O que começa como um sonho maravilhoso… o nascimento de um homem santo, transforma-se num sonho de morte… Em que a pessoa do Dalai Lama, como líder religioso e político de um país, não só passa a ser o seu representante, como em consequência do seu exílio passa ele próprio a ser o país. O filme partilha a não-violência por ele defendida, e é extraordinariamente contido na representação da mesma, quase como uma expiação do próprio Scorsese (ele que é um mestre da violência), mas é essa aparente não-violência que o torna mais forte, mais explícito e consequentemente mais político. Quando, o Dalai Lama ainda pretende uma resistência passiva a um invasor que não olha a meios, é nos seus sonhos que encontra a resposta. Num plano extraordinário, a câmara começa no Dalai Lama e sobe, sobe, revelando o chão coberto de monges mortos. Este é o seu país, esta a sua herança. É simultaneamente o horror e a constatação de que ele é o país e enquanto ele existir o Tibete existirá… daí o exílio. Assim o sonho do início do filme, não é apenas um sonho passado, mas o desejo de um futuro.
Como o vento que arrasta a neve no topo da montanha, ou a corrente de um rio, assim é o filme de Scorsese…
“Lembro-me de tudo como se fosse um sonho” – é assim que começa a voz-off da personagem de Leonardo DiCaprio em Gangs of New York. E também este filme se apresenta como um sonho, uma fantasia sobre a criação de uma cidade, um país, uma democracia. É um filme sujo, violento, com uma montagem vibrante, sincopada, disruptivo, com histórias a surgir por todo o lado. Mais do que sonho é como o pesadelo da Democracia.
São os dois filmes de Martin Scorsese em que o sonho está mais presente, quer como referência directa, quer no próprio estilo. Curiosamente, não são sonhos individuais, são espelhos colectivos, políticos e que mostram todas as incertezas dos nossos tempos. Aquele que aborda o nascimento de uma democracia, vive na violência, na incerteza, até formal do próprio filme. Kundun é um filme que vive uma, ou talvez, várias certezas, a certeza do exílio e da violência a que foi sujeito todo o povo do Tibete. É por isso formalmente um filme mais calmo….
Olho para estes filmes e eles completam-se, reflectem o ser humano em toda a sua contradição individual e política… pensam cada pessoa não só como indivíduos mas inseridas no seu meio e como resposta e consequência do mesmo. E esse meio está sempre a manifestar-se sendo por isso impossível para cada pessoa não ser política. Porque todos os gestos são políticos, os filmes são políticos e até os sonhos são políticos.
Kundun é, em primeiro lugar, um relato dos primeiros anos de vida do Dalai Lama. Simultaneamente uma biografia e um filme religioso. Trata-se da descoberta do 14º Dalai Lama, um homem santo, reencarnação do 13º. É um filme que lida com uma religião e um maravilhoso, em grande parte distante de Martin Scorsese, essa distância é utilizada para reforçar ainda mais o lado etéreo e maravilhoso do filme. Utiliza o personagem do Dalai Lama e as perplexidades próprias de uma criança a quem é atribuído o papel mais importante de um país e de uma religião, para nos mostrar esse mundo.
O olhar infantil é essencial, como um sonho, acontecimentos desenrolam-se. Uma inevitável corrente, muito fiel aos princípios tibetanos de que a vida está em constante mutação. Pé ante pé, vamos saindo do pequeno universo do Dalai Lama para a realidade do país Tibete, da II Guerra Mundial e da ascensão de Mao Tsé-Tung e subsequente invasão.
O que começa como um sonho maravilhoso… o nascimento de um homem santo, transforma-se num sonho de morte… Em que a pessoa do Dalai Lama, como líder religioso e político de um país, não só passa a ser o seu representante, como em consequência do seu exílio passa ele próprio a ser o país. O filme partilha a não-violência por ele defendida, e é extraordinariamente contido na representação da mesma, quase como uma expiação do próprio Scorsese (ele que é um mestre da violência), mas é essa aparente não-violência que o torna mais forte, mais explícito e consequentemente mais político. Quando, o Dalai Lama ainda pretende uma resistência passiva a um invasor que não olha a meios, é nos seus sonhos que encontra a resposta. Num plano extraordinário, a câmara começa no Dalai Lama e sobe, sobe, revelando o chão coberto de monges mortos. Este é o seu país, esta a sua herança. É simultaneamente o horror e a constatação de que ele é o país e enquanto ele existir o Tibete existirá… daí o exílio. Assim o sonho do início do filme, não é apenas um sonho passado, mas o desejo de um futuro.
Como o vento que arrasta a neve no topo da montanha, ou a corrente de um rio, assim é o filme de Scorsese…
“Lembro-me de tudo como se fosse um sonho” – é assim que começa a voz-off da personagem de Leonardo DiCaprio em Gangs of New York. E também este filme se apresenta como um sonho, uma fantasia sobre a criação de uma cidade, um país, uma democracia. É um filme sujo, violento, com uma montagem vibrante, sincopada, disruptivo, com histórias a surgir por todo o lado. Mais do que sonho é como o pesadelo da Democracia.
São os dois filmes de Martin Scorsese em que o sonho está mais presente, quer como referência directa, quer no próprio estilo. Curiosamente, não são sonhos individuais, são espelhos colectivos, políticos e que mostram todas as incertezas dos nossos tempos. Aquele que aborda o nascimento de uma democracia, vive na violência, na incerteza, até formal do próprio filme. Kundun é um filme que vive uma, ou talvez, várias certezas, a certeza do exílio e da violência a que foi sujeito todo o povo do Tibete. É por isso formalmente um filme mais calmo….
Olho para estes filmes e eles completam-se, reflectem o ser humano em toda a sua contradição individual e política… pensam cada pessoa não só como indivíduos mas inseridas no seu meio e como resposta e consequência do mesmo. E esse meio está sempre a manifestar-se sendo por isso impossível para cada pessoa não ser política. Porque todos os gestos são políticos, os filmes são políticos e até os sonhos são políticos.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Exposição Virtual
Aqui está um excerto da Exposição Virtual sobre a obra de Jose Nuno da Camara Pereira.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Exposed
Filme final do 8 week workshop da New York Film Academy, dezembro 2002. Esteve em competição no Festival de Avanca de 2003.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Gangs of New York - The Blood stays on the blade
Gangs of New York, está longe de ser um filme consensual. Despertou muitas indiferenças e muita falta de compreensão. É sem dúvida um filme anti-climático, com um cem número de histórias a acontecer a todo o momento. Para mim foi uma enorme descoberta, um filme que me deixou sem respiração. É como um tratado visual, em que em cada plano conseguimos encontrar uma história e a história do filme:
É ver as ruas cheias de pessoas de todas as origens, em que as musicas se fundem. É ver a sede do partido, em que Bill (Daniel Day-Lewis) discute com o líder do partido, numa sala cheia de gaiolas de pássaros, que mostram a prisão de luxo em que esse líder vive. Ou todos os planos com a bandeira americana.
Longe das paisagens míticas do oeste, Scorsese construiu o Eastern. Género de um filme só, mas cujos códigos são os mesmos do Oeste. Nele vemos o herói que se quer vingar, a heroína que o ama e o vilão que é a alternativa à lei. A aparente simplicidade de propósitos dos protagonistas (e a sua linearidade) são um choque com tudo o que acontece à sua volta e servem o propósito de realçar essa América que está a nascer.
No inicio o Priest Vallon (Liam Neeson) diz para o seu filho (Leonardo DiCaprio) - The blood stays on the blade.
Esse é todo o propósito do filme, mostra que a cidade não é feita de prédios e ruas, mas de camadas e camadas de sangue e corpos que a revestem… essa é a sua memória, é aí que se encontram as suas histórias. O massacre no final do filme é a ilustração visual dessa cidade/país lamina, com o sangue a cobrir as ruas. A sua iconografia é a do esventramento, das lâminas, do sangue. Uma América espectáculo, assistimos a teatros, musicas, circo, a politica, o boxe, os sacrifícios públicos e mesmo um assassinato… Aliás esse é um momento brilhante de distanciamento irónico – Bill mata Monk (Brendan Gleeson) com a sua própria moca, após o qual vira-se para nós, o seu publico, e faz uma vénia, acabando o plano com aplausos que colam com a sequência seguinte. Nesse momento, funde-se a violência e o espectáculo e é como se a narrativa parasse e Bill nos confrontasse directamente com o seu acto, obrigando-nos a partilhar e aplaudir.
Cada plano é como uma nódoa de sangue que forma todo o filme, cada pedaço fundamental para essa tapeçaria. No final, fica apenas a impressão de termos assistido ao enorme caldeirão contraditório e primitivo, à civilização antes dela existir. Por isso, o excesso, a teatralização e os rituais de violência.
Mas o que acontece aos protagonistas que nos levam por este turbilhão de acontecimentos?... eles mesmos são esmagados por forças maiores. A História (com H ) sobrepõe-se, e no momento do ajuste final, a cidade engole-os, e percebemos, tal como o protagonista, o pequeno que ele é. Apenas mais uma gota nesse enorme oceano vermelho.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Contos da Lua Vaga - Sonhos e Fantasmas
Existe nos filmes de Mizoguchi uma força de realidade, como se estivéssemos a olhar através de uma janela para algo que está mesmo a acontecer. Talvez seja pela sua mise-en-cene, os seus longos planos médios, pela beleza dos cenários.
Quando imersos nessa realidade, surge o fantástico, ele é real, e ambos se fundem. Ele é tão concreto e simultaneamente etéreo. Esse é o maravilhoso dos Contos da Lua Vaga.
É um registo de um sonho que o filme adopta, um sonho feito de desejos por concretizar e das terríveis consequências que eles trazem. A procura dos desejos leva-nos ao fundo de nós mesmos e lá encontramos o que realmente importa. Mas para um dos protagonistas apenas sobram resquícios de uma vida que pode querer reconstruir com a mulher. O outro, entrou no reino dos fantasmas e só enquanto fantasma poderá concretizar os seus desejos. Assim foge do desejo de uma fantasma, para encontrar, apenas como sonho, aquilo que mais quer – reunir-se com a sua família.
É a naturalidade do registo que o torna tão comovente e tão onírico. Porque o que são os fantasmas senão a manifestação visível daquilo que já não conseguimos ter, e onde mais do que no cinema é possível visitar tais fantasmas.
Os contos da Lua Vaga é um filme imenso que povoa os meus sonhos. O seu plano final é um doloroso e lindíssimo olhar para a família finalmente reunida. Simples, desarmante e arrasador. Só por ele vale a pena visitar vezes sem conta estes contos.
Quando imersos nessa realidade, surge o fantástico, ele é real, e ambos se fundem. Ele é tão concreto e simultaneamente etéreo. Esse é o maravilhoso dos Contos da Lua Vaga.
É um registo de um sonho que o filme adopta, um sonho feito de desejos por concretizar e das terríveis consequências que eles trazem. A procura dos desejos leva-nos ao fundo de nós mesmos e lá encontramos o que realmente importa. Mas para um dos protagonistas apenas sobram resquícios de uma vida que pode querer reconstruir com a mulher. O outro, entrou no reino dos fantasmas e só enquanto fantasma poderá concretizar os seus desejos. Assim foge do desejo de uma fantasma, para encontrar, apenas como sonho, aquilo que mais quer – reunir-se com a sua família.
É a naturalidade do registo que o torna tão comovente e tão onírico. Porque o que são os fantasmas senão a manifestação visível daquilo que já não conseguimos ter, e onde mais do que no cinema é possível visitar tais fantasmas.
Os contos da Lua Vaga é um filme imenso que povoa os meus sonhos. O seu plano final é um doloroso e lindíssimo olhar para a família finalmente reunida. Simples, desarmante e arrasador. Só por ele vale a pena visitar vezes sem conta estes contos.
domingo, 1 de fevereiro de 2009
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